sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Filosofia da Linguagem: alguns conceitos de Saussure



Alguns conceitos básicos de Saussure, na visão de Castelar de Carvalho

Semiologia / Linguística
A Semiologia (ou Semiótica) é a teoria geral dos sinais. Ela difere da Linguística por sua maior abrangência: enquanto a Linguística é o estudo científico da linguagem humana, a Semiologia preocupa-se não apenas com a linguagem humana e verbal, mas também com a dos animais e de todo e qualquer sistema de comunicação, seja ele natural ou convencional. A Linguística constitui, portanto, uma parte da Semiologia. Semiologia e Semiótica são termos permutáveis (a primeira surgiu na Europa, com Saussure, e a segunda, nos Estados Unidos, com o filósofo Charles Sanders Peirce).

O signo linguístico: arbitrariedade e linearidade
Para Saussure, signo é a união do sentido e da imagem acústica. O que ele chama de “sentido” é a mesma coisa que conceito ou ideia, isto é, a representação mental de um objeto ou da realidade social em que nos situamos, representação essa condicionada pela formação sociocultural que nos cerca desde o berço.
Em outras palavras, para Saussure, conceito é sinônimo de significado (plano das ideias), a contraparte inteligível da palavra, em oposição ao significante (plano da expressão), que é sua parte sensível. Por outro lado, a imagem acústica “não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica desse som” (Curso de lingüística geral, p. 80). Assim, a imagem acústica é o significante. Com isso, temos que o signo linguístico é “uma entidade psíquica de duas faces” (p. 80). Mais tarde, Jakobson e a Escola Fonológica de Praga estabelecerão definitivamente a distinção entre som material e imagem acústica. Ao primeiro chamaram de fone, objeto de estudo da Fonética. À imagem acústica denominaram de fonema, conceito amplamente aceito e consagrado pela Fonologia.
Os dois elementos – significante e significado – constituem o signo “estão intimamente unidos e um reclama o outro” (p. 80). São interdependentes e inseparáveis, pois sem significante não há significado e sem significado não existe significante. Exemplificando, diríamos que quando um falante de português recebe a impressão psíquica que lhe é transmitida pela imagem acústica ou significante / kaza /, graças à qual se manifesta fonicamente o signo casa, essa imagem acústica, de imediato, evoca-lhe psiquicamente a idéia de abrigo, de lugar para viver, estudar, fazer suas refeições, descansar, etc. Figurativamente, diríamos que o falante associa o significante / kaza / ao significado domus (tomando-se o termo latino como ponto de referência para o conceito).


Sincronia versus Diacronia
Sincronia: do grego ‘syn’ (″juntamente″) + chrónos (“tempo”): ao mesmo tempo Diacronia: do gredo ‘dia’ (″através″) + chrónos (“tempo”): através do tempo.
A sincronia é o eixo das simultaneidades, no qual devem ser estudadas as relações entre os fatos existentes ao mesmo tempo num determinado momento do sistema linguístico, que pode ser tanto no presente quanto no passado. Em outras palavras, sincronia é sinônimo de descrição, de estudo do funcionamento da língua. Por outro lado, no eixo das sucessividades ou diacronia, o linguista tem por objeto de estudo a relação entre um determinado fato e outros anteriores ou posteriores, que o precederam ou lhe sucederam. Saussure adverte que tais fatos (diacrônicos) “não têm relação alguma com os sistemas, apesar de os condicionarem” (p. 101). Em outras palavras, o funcionamento sincrônico da língua pode conviver harmoniosamente com seus condicionamentos diacrônicos. Acrescente-se ainda que a diacronia divide-se em história externa (estudo das relações existentes entre os fatores socioculturais e a evolução linguística) e história interna (trata da evolução estrutural – fonológica e morfossintática – da língua).
Ferdinand de Saussure enfatizou uma visão sincrônica, um estudo descritivo da linguística em contraste à visão diacrônica do estudo da linguística histórica, que é o estudo da mudança dos signos no eixo das sucessões históricas (através do tempo), e era a forma como o estudo das línguas era tradicionalmente realizado no século XIX. Com tal visão sincrônica, Saussure procurou entender a estrutura da linguagem como um sistema em funcionamento em um dado ponto do tempo (recorte sincrônico), para além do processo histórico-temporal de mudanças.

Língua versus Fala


Saussure também efetua, em sua teorização, uma separação entre língua e fala. Para ele, a língua é uma construção coletiva, um sistema de valores que se opõem uns aos outros e que está depositado como produto social na mente de cada falante de uma comunidade. A língua possui homogeneidade e por isto é o objeto da linguística propriamente dita. Já a fala é um ato individual e está sujeito a fatores externos, muitos desses não linguísticos e, portanto, não passíveis de análise.

Significante versus Significado

O signo linguístico constitui-se numa combinação de significante e significado, como se fossem dois lados de uma moeda.

    • O significante do signo linguístico é uma "imagem acústica" (cadeia de sons). Consiste no plano da forma.
    • O significado é o conceito, reside no plano do conteúdo.
    • Conjuntamente, o significante e o significado forma o signo.


Sintagma versus Paradigma

O sintagma é definido por Saussure como “a combinação de formas mínimas numa unidade linguística superior”, e surge a partir da linearidade do signo, ou seja, ele exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo: um termo só passa a ter valor a partir do momento em que ele se contrasta com outro elemento. Já o paradigma é, como o próprio autor define, um "banco de reservas" da língua, fazendo com que suas unidades se oponham, pois uma exclui a outra.
Contudo, indubitavelmente, a teoria do valor é um dos conceitos cardeais do pensamento de Saussure. Sumariamente, esta teoria postula que os signos linguísticos estão em relação entre si no sistema de língua. Entretanto, essa relação é diferencial e negativa, pois um signo só tem o seu valor na medida em que não é um outro signo qualquer: um signo é aquilo que os outros signos não são.



Síntese conceitual elaborada por Silvio M. Maximino, com base no texto de Castelar de Carvalho


FONTES pesquisadas:
CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure. 12ª ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
CARVALHO, Castelar de. SAUSSURE E A LÍNGUA PORTUGUESA, disponível em: http://www.filologia.org.br/viisenefil/09.htm

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