sábado, 15 de novembro de 2014

Exposição GENESIS: Sebastião Salgado



Exposição "Genesis"
CURADORIA – LÉLIA WANICK SALGADO


Exposição ‘Genesis”, do famoso fotógrafo Sebastião Salgado, está aberta ao público de 13 de novembro de 2014 a 15 de fevereiro de 2015, de terça a sexta, das 08h às 12h e 13h às 21h30 e sábados, domingos e feriados, das 09h30 às 18h, na Área de Convivência do Sesc. 
A entrada é gratuita.
Mais informações no portal: sescsp.org.br/bauru
Agendamento: para visitas educativas é necessário realizar o agen­damento, que pode ser realizado pelo email agendamento@bauru.sescsp.org.br ou pelos telefones (14 – 3235-1790 / 3235-1760).
participantes por grupo: cada grupo agendado deve ter até 40 estudantes.
confirmação de agendamento: a confirmação do agendamento será feita por e-mail juntamente com o envio de um formulário a ser preenchido. No dia da visita, o responsável pelo grupo deverá apresen­tar o formulário o e-mail de confirmação de agendamento impresso e assinado.

O embarque e desembarque dos visitantes é realizado na entrada situada à Avenida Aureliano Cardia, 6-71, Vila Cardia, Bauru, SP.


O projeto

Gênesis, palavra conhecida por remeter à origem do mundo no pri­meiro livro da Bíblia, é o título de um grande projeto realizado pelo fotógrafo Sebastião Salgado, sua esposa Lélia Wanick Salgado e uma equipe de colaboradores.
Para sua realização, foram realizadas trinta e duas viagens, com du­ração média de dois meses. Em busca de lugares onde a natureza permanece preservada como em suas origens, Sebastião e sua equipe enfrentaram temperaturas extremas de frio e calor, viveram em acampamentos improvisados e utilizaram os mais variados meios de transporte, de navios e canoas a aviões, trenós, a pé ou com o auxílio de animais.

O que ressalta aos olhos dos visitantes é a beleza das imagens, que carregam em si a missão pedagógica de seu autor: testemunhar a pre­sença da vida em lugares onde o ser humano ainda não se instalou ou em comunidades que se organizam em torno de atos para manter sua sobrevivência mais simples na terra em que vivem, realizando uma reportagem fotográfica que se apresenta ao público de duas formas: na exposição, a partir de 13 de novembro no Sesc Bauru, e no livro Gênesis, publicado pela editora Taschen.

Nas palavras da curadora da exposição e editora do livro, Lélia Wanick Salgado,

Genesis é uma jornada em busca do planeta como existiu, desde sua formação e em sua evolução, antes que a vida mo­derna se acelerasse e nos afastasse do núcleo essencial. É uma busca das paisagens terrestres e aquáticas até hoje intocadas; uma viagem em direção aos animais e grupos humanos que conseguiram escapar das transformações impostas pelo mun­do contemporâneo. E Genesis comprova que o nosso planeta ainda abriga vastas e remotas regiões onde a natureza reina em imaculada e silenciosa majestade.

O casal afirma ainda que em suas pesquisas chegaram à seguinte in­formação: 46% da área total de nosso planeta continua tão preservada quanto nas eras mais remotas, justamente pela dificuldade de acesso, em terras desérticas e muito quentes, ou ainda em lugares de clima insuportavelmente frio. 
Lélia e Sebastião esperam que nos sensibilizemos para a questão da sustentabilidade ecológica, mobilizando nossos saberes e recursos para transformar o planeta.


A exposição Genesis e o projeto de Sebastião Salgado: a exposição como plataforma de trabalho para os professores e educadores

Como educadores, consideramos esta exposição um convite à pesquisa e descoberta de uma série de temas e possibilidades a serem abordadas em processos pedagógicos.

Do ponto de vista da contextualização de temas da Geografia e da História, as imagens nos remetem a contextos bastante diversos dos que vivenciamos nas cidades e centros urbanos, com outras formas de organização da vida e da relação com as riquezas naturais da fauna e da flora. O trabalho de edição do livro e da elaboração da exposição, reali­zado por Lélia Salgado, inclui legendas em cada fotografia, oferecendo pistas para o aprofundamento das pesquisas em sala de aula junto aos alunos após a visita, sendo o trabalho com mapas e enciclopédias uma possibilidade de ampliar e adensar a aproximação dos estudantes com os assuntos.

Do ponto de vista da arte e da produção de imagens, nas fotografias criadas por Sebastião Salgado visualizamos junto aos alunos o enfoque na construção de diferentes narrativas, e também da noção de pas­sagem de tempo que se mostra nas sequências e espaços presentes nas paredes da exposição.
Em relação à composição das fotografias, é possível perceber nas ima­gens formas de organizar e enquadrar as cenas que lembram as pinturas de retrato e paisagem, especialmente as realizadas pelos artistas moder­nos dos séculos XIX e XX.
Outro ponto interessante para abordar junto aos estudantes é a evolu­ção dos processos fotográficos: Sebastião Salgado utilizou durante qua­se toda a sua carreira os processos tradicionais de captura de imagens fotográficas, com filmes e câmeras analógicas. No projeto Genesis, en­tretanto, passou a utilizar máquinas digitais para capturar as imagens, diminuindo a quantidade de equipamentos e bagagens que precisava carregar durante as viagens.
O processamento das imagens, entretanto, continua acontecendo em laboratórios que transmitem as imagens digitais a rolos de filmes, reve­lados a partir dos mesmos procedimentos que utilizou durante toda a sua carreira de fotógrafo, num processo de elaboração química para a ambientação de luzes e sombras que caracterizam seu trabalho.
O trabalho de criação em arte e cultura é sempre o resultado de um processo de escolhas. Em fotografia, é importante lembrar que para cada imagem exposta, uma série de dezenas de outras foram realizadas, o que nos leva a pensar para além do momento em que a imagem foi capturada.
Assim, ao olhar uma fotografia de Sebastião Salgado, é preciso levar em consideração todas as etapas de realização da imagem, que podem ser sistematizadas a partir da seguinte sequência:
• escolha de um tema a ser pesquisado e organização do trabalho em seus aspectos práticos de realização (necessidades das viagens, mate­riais a serem utilizados etc.)
• escolha do local em que a imagem será capturada,
• captura de uma sequência de imagem no local escolhido,
• impressão das imagens em folhas de contato que reúnem as imagens de uma mesma coleção,
• observação e seleção de imagens a serem ampliadas para melhor estudo de composição e características,
• processo de revelação das fotografias em estúdio e estudo de luz e sombras de cada imagem,
• seleção de imagens para exibir em livros e exposições, bem como a escolha das imagens que serão veiculadas como divulgação das expo­sições e publicações.

Podemos considerar que todas essas escolhas são igualmente funda­mentais para a realização e veiculação das reportagens realizadas por Sebastião Salgado, que decidiu tornar-se fotógrafo durante uma viagem de trabalho como economista a Angola, no início dos anos 1970, para denunciar muitos tipos de problemas sociais e políticos em diferentes localidades do mundo.
Após fixar-se em Paris, no ano de 1974, passou a realizar a cobertura fotográfica das condições de vida de imigrantes em países europeus, e acontecimentos de grande tensão social, como a atuação do Exército Republicano Irlandês (IRA) em meio aos conflitos religiosos na Irlanda.
Outras Américas foi o projeto que reuniu, em 1986, o fruto de seu tra­balho de investigação nas viagens realizadas pelos países da América Latina, seguido pelo projeto Sahel, realizado em viagem com os Médicos sem Fronteiras às regiões desérticas do norte da África.
Se no primeiro projeto Sebastião pôde registrar as condições precárias e simples de vidas em que a religiosidade era um traço cultural marcante, na África o fotógrafo conheceu a miséria total, na forma de doenças, mortes e total abandono face à seca.
As imagens fizeram grande sucesso em diversos países. Em sua grande maioria, o público que tinha acesso pela primeira vez às imagens belís­simas que apresentavam contextos que causavam indignação, se sentia convocado a agir, ou comovido em busca de certo tipo de solidariedade face àquelas pessoas retratadas, vivendo em condições revoltantes sem desistir de buscar dignidade na manutenção da sobrevivência. O tra­balho foi conquistando espaços em jornais e revistas, mas também em museus, galerias de arte, instituições culturais e organizações governa­mentais de todo o tipo.


A fotografia de Sebastião Salgado: o fotojornalismo

O campo de atuação de Sebastião Salgado é o fotojornalismo, sendo que o fotógrafo denomina cada projeto como reportagem.
No fotojornalismo, as imagens carregam narrativas objetivas e claras, que podem tornar-se mensagens acerca de um tema ou acontecimento, transmitindo informações. As imagens do fotojornalismo circulam em jornais e revistas, bem como em livros e exposições fotográficas, dedi­cadas pelo menos quatro tipos de abordagem:
reportagem fotográfica social: trabalhos em que os fotógrafos se de­dicam a pesquisar acontecimentos e condições de vida do ser humano em contextos sociais, políticos e econômicos, incluindo a fotografia de testemunho e denúncia,
reportagem fotográfica esportiva: cobertura de acontecimentos es­portivos e contextos em que se desenvolvem,
reportagem fotográfica cultural: registro de contextos culturais diversos, em geral ligados à produção cultural e de arte em suas múl­tiplas manifestações,
reportagem fotográfica policial: investigação que contempla o regis­tro de imagens de crimes, combates, repressões e outros acontecimen­tos no âmbito da ação policial.

No Brasil, durante cerca de um século, a fotografia em preto e branco caracterizou o fotojornalismo. Foi na década de 1970 que a imagem colorida passou a ganhar espaço, inicialmente em revistas e só mais tardiamente em jornais.

Sebastião Salgado está ligado ao fotojornalismo independente, uma forma de trabalho que teve início logo após a Segunda Guerra Mundial, na França. Os fotógrafos engajados neste tipo de ação realizavam suas reportagens e, filiados a agências de imagens, circulavam seus trabalhos em publicações do mundo todo, sem restringir a circulação de seu tra­balho a apenas um jornal ou revista.

As reportagens de Sebastião Salgado questionaram, por muitos anos, a desequilibrada relação política e econômica entre diferentes esferas so­ciais, bem como entre as duras realidades de quem trabalha no campo ou na terra em diferentes países. Talvez por isso, os trabalhos anteriores ao projeto Genesis (Outras Américas, Trabalhadores, Êxodos, Sahel ) são considerados por muitos um tributo à dignidade e à resistência humana, em composições clássicas.

Genesis é o projeto em que o ativismo de Sebastião Salgado assume uma abordagem mais intencionalmente pedagógica, com um discurso de defesa do planeta para a manutenção das riquezas naturais e da vida hu­mana. As fotos não carregam mais o tom de dramaticidade e denúncia dos projetos anteriores, mas sim de testemunha da existência de lugares ainda tão intocados quanto nos primeiros tempos da vida na Terra.










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