quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Ética, ambiente e ação humana




Comemoramos neste 11 de setembro o Dia Nacional do Cerrado. Abrigando cerca de 10 mil espécies de plantas, em suas distintas fisionomias vegetais, a “savana brasileira” encerra ampla variedade de habitats, contendo uma biodiversidade de fauna e flora invejável. 

Infelizmente, muita gente ainda acha que se trata apenas de “mato e árvore retorcida”. Ignora-se, por exemplo, que sua fauna apresenta mais de 800 espécies de aves e mais de 190 de mamíferos! 

Além disso, desconsidera-se que há centenas de grupos indígenas e sertanejos que habitam tais regiões de cerrado e que dependem dele para sua subsistência.

Apesar de ser considerada a segunda maior formação vegetal do Brasil (abrange dez Estados), é um dos ecossistemas mais esquecidos e devastados. Para se ter uma ideia, em todo o Estado de São Paulo, restam apenas 0,84% da área original (sendo a região de Bauru a terceira no Estado com maior área coberta pelo bioma). 

Enquanto a bandeira da Amazônia é agitada aos quatro ventos pelo Parlamento e pela mídia de massa, a bandeira do cerrado é discretamente dobrada e engavetada. A pressão urbana e o desordenado avanço de atividades agrícolas e pecuárias vêm reduzindo rapidamente a biodiversidade desses ecossistemas, embora recente pesquisa do Instituto Data Folha tenha revelado que 94% dos brasileiros não apóiam o desmatamento para produzir alimentos.

Os poucos parques e estações ecológicas existentes dão conta de apenas 6,5% da área total de cerrado. Como consequência, em breve, inúmeras espécies da fauna e flora desaparecerão e muitas nascentes d’água serão suprimidas, afetando, inclusive, o clima regional. Além disso, outros biomas brasileiros alimentados por essas nascentes também receberão impactos negativos: devemos lembrar que no cerrado nasce a maioria dos grandes rios que abastecem as bacias hidrográficas Paraná-Prata, Amazonas, Tocantins e São Francisco.

Contra todas as evidências, muitos ainda argumentam que há outras prioridades como, por exemplo, o crescimento econômico, como meio de melhorar a qualidade de vida, via aumento de renda das populações mais pobres. Custa a alguns cidadãos entender que qualidade de vida tem pouco a ver com acúmulo de riquezas. Além disso, num mundo em que “desastres ecológicos servem para incrementar o PIB porque geram fluxo de caixa”, fica evidente que há algo de errado com os atuais indicadores de crescimento. 

Na sociedade da comunicação, como ela está organizada hoje, o consumidor tem pouco ou nenhum acesso às informações fundamentais que lhe permitiriam agir e influenciar sobre seus governos e indústrias. Mas podemos agir promovendo transformações em nós mesmos e em nossa comunidade. Isso implica uma mudança interior do indivíduo, ou seja, nos seus valores, na sua visão de mundo, na sua conduta. 

Hoje, a palavra da moda em ecologia é “ser sustentável”. Fazer coleta seletiva, só consumir produtos recicláveis ou substituir tecnologias sujas pelas limpas, já seria um bom começo. Reduzir a “pegada ecológica”, ou seja, a quantidade de recursos naturais que precisamos para viver com qualidade de vida seria outro passo importante, embora muito difícil enquanto tudo à nossa volta estimula escolhas de consumo inconsequentes. Não se trata de apontar um culpado; seria uma discussão sem fim. 

Ainda há dúvida sobre quem é ou quem são os responsáveis por tudo isso. Em nossa ingenuidade de crescer e crescer sem considerar o outro, chegamos onde estamos. Somos hoje convidados a repensar o que seja “crescer” e o que chamamos de “qualidade de vida”.

Em outros tempos, falava-se numa ética para com o “outro-pessoa”. Hoje, já se fala de uma ética em relação ao “outro-natureza”. Porque salvar o planeta é salvar a nós mesmos! A equação é simples, mesmo para os mais egoístas enxergarem. Recentemente, nossa Assembléia Legislativa aprovou uma lei específica de proteção ao cerrado (a primeira lei estadual do Brasil que cuida, especificamente, de um único bioma). É um avanço, mas precisamos de mais atitudes efetivas. 

Sozinhos, talvez, possamos fazer pouco, mas, unidos, podemos mais! Na região de Bauru, algumas ONGs como, por exemplo, Fórum Pró-Batalha, Vidágua e a SOS Cerrado, lutam como podem para a conscientização em relação à conservação deste importante bioma. Todos podem colaborar.


O autor, Silvio Motta Maximino, é professor de Filosofia, pós-graduado em antropologia e um dos diretores da Associação SOS Cerrado em Bauru


publicado no Jornal da Cidade, edição de 11/09/2009 - Editorial Opinião - página 02

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