sábado, 3 de setembro de 2016

O inventário do invisível - John Lloyd (2009)




Os mistérios da natureza, abordados com sagacidade mordaz e irônica, pelo comediante, escritor e profissional de TV John Lloyd. Ele enumera uma relação de coisas importantíssimas em nossas vidas, mas que não vemos.
A apresentação de Lloyd está disponível em TED Talk (com legenda):
https://www.ted.com/talks/john_lloyd_inventories_the_invisible/transcript?language=pt



O inventário do invisível
de John Lloyd em 2009

A pergunta é: o que é invisível?
É mais complicado do que parece.
Tudo, eu diria – tudo que importa – exceto todas as coisas, e exceto a matéria.
Nós podemos ver a matéria, mas não podemos ver o que ela é (o que se passa nela).
Podemos ver estrelas e planetas, mas não podemos ver o que os mantém distantes ou o que os faz se aproximarem.
Com a matéria e com pessoas, nós só vemos a pele das coisas;
não podemos ver a “casa das máquinas”...
não podemos ver o que faz as pessoas funcionarem, pelo menos não tão facilmente,
e quanto mais olhamos para qualquer coisa, mais ela desaparece.
Na verdade, se você olhar as coisas bem de perto, se você olhar a estrutura básica da matéria, não há nada lá. Até elétrons desaparecem, e só há energia.
Uma das coisas interessantes sobre invisibilidade é que as coisas que não conseguimos ver, também não conseguimos entender.

A gravidade: é uma coisa que não enxergamos, e também não entendemos.
É a menos entendida das quatro forças fundamentais, e a mais fraca, e ninguém sabe ao certo o que ela é ou porque está lá.
Para se ter uma ideia, Sir Isaac Newton, o maior cientista da história,
achava que Jesus veio à Terra especificamente para operar as alavancas da gravidade.
Era pra isso que ele acreditava que Jesus estava aqui.
Um cara esperto, mas pode estar errado dessa vez, eu não sei.

Consciência: Eu vejo os rostos de todos vocês, mas não tenho a menor ideia de que estão pensando.
Não é incrível? Não é impressionante que nós não possamos ler as mentes uns dos outros? quando podemos tocar uns aos outros, provar uns aos outros, talvez, se chegarmos bem perto, mas não podemos ler as mentes uns dos outros.
Eu acho isso surpreendente.
Na fé Sufista – uma bela religião do Oriente Médio que alguns dizem ser a origem de todas as religiões, os mestres Sufis são todos telepatas, mas seu principal exercício de telepatia é enviar sinais poderosos para o resto de nós dizendo que telepatia não existe.
Então é por isso que não acreditamos que ela existe; são os mestres Sufis a trabalhar sobre nós.

Na questão da consciência e inteligência artificial:
a inteligência artificial chegou, assim como o estudo da consciência,
a lugar nenhum!
nós não temos a menor ideia de como a consciência funciona.
Não somente fomos incapazes de criar inteligência artificial, também não conseguimos criar estupidez artificial.

As leis da Física: invisíveis, eternas, onipresentes, inquestionáveis.
Isso o lembra de Alguém?

Interessante. Eu não sou, como vocês devem imaginar, um materialista. Sou um imaterialista. E encontrei uma palavra bem útil – ignóstico. Ok?
Eu sou ignóstico.

Deus? me recuso a decidir se Deus existe, a menos que alguém defina exatamente os termos.

Outra coisa que não podemos ver é o genoma humano.
E isso é cada vez mais peculiar, já que 20 anos atrás, quando os estudos do genoma começaram, eles acreditavam que ele deveria conter por volta de 100 mil genes. Todo ano desde então, esse valor tem diminuído. Agora achamos que deve haver pouco mais que 20 mil genes no genoma humano.
Isso é extraordinário, porque o arroz – veja bem – o arroz tem 30 mil genes.
Batatas – batatas têm 48 cromossomos, dois a mais que pessoas, e o mesmo que um gorila.
Você não pode ver essas coisas, mas elas são bem estranhas.

As estrelas durante o dia, sempre me lembro de como isso é fascinante... O universo desaparece. Quanto mais luz há, menos você consegue ver.

Tempo: Ninguém vê o tempo.
Não sei se você sabe disso, mas entre os físicos modernos há um grande movimento
para decidir que o tempo não existe!... porque ele é muito inconveniente.
É muito mais fácil se ele não estiver lá.
Você não pode ver o futuro, obviamente, e você não pode ver o passado, exceto em sua memória.
Uma das coisas interessantes sobre o passado é que você não pode ver muito além–
meu filho me perguntou isso, ele disse "pai, você se lembra de como eu era quando tinha 2 anos?"
E eu disse sim. Ele disse, "por que eu não me lembro?"
Não é extraordinário? Você não se lembra do que aconteceu com você antes dos dois ou três anos de idade.
O que é uma ótima notícia para os psiquiatras, caso contrário estariam desempregados.
Porque são nesses anos em que todas as coisas que te definem acontecem.

Outra coisa que você não pode ver é a rede que nos mantém inteiros.
Isso é fascinante. Vocês provavelmente sabem que as células são constantemente renovadas:
A pele descama, cabelo cresce, unhas, essas coisas– mas todas as células do seu corpo são trocadas eventualmente.
Papilas gustativas, a cada 10 dias.
O fígado e outros órgãos internos demoram um pouco mais.
A coluna leva vários anos.
Mas ao final de sete anos, nenhuma célula em seu corpo é a mesma que estava lá sete anos atrás.

A pergunta é: então quem somos nós? O que somos nós? O que nos mantém inteiros?
O que realmente nos compõe?

Átomos? não podemos vê-los. Nunca poderemos. Eles são menores que o comprimento de onda da luz.

Gás? não podemos vê-lo.
Interessante... alguém mencionou o ano de 1600... recentemente, portanto.  A palavra ‘gás’ foi inventada em 1600, por um químico belga chamado Van Helmont.
É conhecida como a mais bem-sucedida invenção de uma palavra por um indivíduo.
Muito boa. Ele também inventou a palavra blas, significando ‘radiação astral’.
Não pegou, infelizmente.
Mas parabéns a ele.

Luz? você não pode ver a luz.
Quando está escuro, no vácuo, se alguém cria um feixe de luz diretamente nos seus olhos, você não o verá.
Um pouco técnico, alguns físicos discordam disso. Mas é estranho que você não possa ver o feixe de luz, você só vê o que o feixe atinge.

Eletricidade? não a vemos. Não deixe ninguém te dizer que entende de eletricidade, não é verdade.
Ninguém sabe o que ela é. Você provavelmente pensa que os elétrons em um fio elétrico se movem instantaneamente através do fio, na velocidade da luz, quando você aciona o interruptor.
Não é assim. Elétrons escorregam aos tropeços pelo fio, tão rápido quanto o mel se espalha quando derramado.

As galáxias? cem bilhões delas, estimadas no universo! Cem bilhões!!
Quantas podemos ver? Cinco. Cinco, de cem bilhões de galáxias, a olho nu.
E uma delas é bem difícil de ver, a não ser que você tenha uma excelente visão.

Ondas de rádio: Outra coisa. Heinrich Hertz, quando as descobriu em 1887,
as chamou de ondas de rádio porque elas irradiavam.
Alguém perguntou a ele “para que servem, Henrich? Para que servem essas ondas de rádio que você encontrou?”
E ele disse “não faço a menor ideia, mas acho que um dia alguém descobrirá.”

A maior coisa que é invisível para nós é o que não sabemos.
É incrível o quão pouco nós sabemos.
Thomas Edison disse que não sabemos um por cento de um milionésimo sobre qualquer coisa.

E eu cheguei ao ponto que a maioria de nós também se pergunta.
Qual é o ponto? Não conseguem ver um ponto.
Mas o ponto, a conclusão a que cheguei, é que há só duas perguntas que merecem ser feitas:
Qual o sentido da vida? Por que estamos aqui, e o que devemos fazer enquanto estamos aqui?

Para ajudá-los, eu deixo duas ideias, de dois excelentes filósofos, talvez dois dos maiores pensadores do século XX. Um é matemático e engenheiro, e o outro poeta.

O primeiro é Ludwig Wittgenstein, que disse:
“Não sei porque estamos aqui, mas tenho quase certeza de que não é pra nos divertir.”
Ele era um filho da mãe bem divertido, não é mesmo?

E por último, W.H. Auden, um dos meus poetas favoritos, que disse:
“Estamos aqui para ajudar os outros. Para que os outros estão aqui, eu não faço a menor ideia.”

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