quarta-feira, 20 de setembro de 2017

A distância entre o que percebo e o real

 

Mais do que posso conceber

by flaviosiqueira

Nada é exatamente como percebemos. Cada um de nós enxerga a partir de lentes embaçadas, mentes condicionadas por tantos conceitos, tantas impressões, tantos vetores que não nos damos conta.
Você só conhece uma versão. Olha por uma única fresta e pensa que viu tudo. Sente-se seguro por acreditar que sabe. Pensar que sabe lhe deixa seguro.
A ciência pensa que sabe, a filosofia imagina ter chegado à algum lugar, a teologia orgulha-se sem saber que não sabe.
A maioria de nós se apegou às próprias certezas e a partir delas construiu castelos imaginários que o tempo, as perdas, as dores, os imprevistos da vida podem facilmente destruir. Tememos a desilusão. Enxergar desilude.
E então vivemos como quem se esforça para acreditar que tudo será como parece, que os castelos serão inabaláveis, que as coisas farão sentido conforme a lente embaçada e a vida será sempre mar tranquilo, como se todas as possibilidades, todas as variáveis, todos os caminhos coubessem na caixinha de fósforo que vivo, no grãozinho de arroz que sou.
Mas essa é só uma parte da história. É a parte inquietante, pelo menos sob a perspectiva da mente que se esforça para assumir o controle, que projeta sobre o ego a incumbência de assumir-se como ente, como ser que não é.
Até que não reste alternativa a não ser enxergar a própria ignorância. Desconstruir-se é assumir-se como é, reconhecer as incompletudes, sem disfarces, sem camuflagem, sem medo.
Nada é exatamente como percebemos.
A vida inteira se movimenta para nos mostrar que toda perspectiva absoluta é reducionista e nos livrar da tendência tão arraigada de nos identificarmos com a imagem do espelho, a superfície dos acontecimentos, a sensação de controle.
É preciso coragem para soltar as muletas e caminhar sem escorar-se em nada. Calar a mente, pacificar-se exatamente por saber que a inquietude é improdutiva, as construções mentais ilusórias, o sentimento de posse passageiro, a sensação de poder enganosa.
Você só vê pela fechadura, não sabe quase nada, portanto, que o sentimento diante da vida seja de reverência.
Que haja silêncio e pacificação suficientes para entender os sinais sem ficar se debatendo, conectar os movimentos sem reclamação, perceber que em cada acontecimento, por menor que seja, existem bilhões de possibilidades, todas com potencial para aprofundar sua consciência, mas você só percebe uma, talvez duas, quem sabe três, nada além.
Aquiete-se.
Você está vivo, experimentando agora a condição de ser-humano e isso já é mais do que pode entender.
Se não sabemos quase nada, sejamos humildes e simples de coração, abertos o suficiente, atentos ao universo que nos cerca, que nos habita, que se projeta no caminho e, sobretudo, gratos pelo espantoso e inexplicável fato de existirmos.
Por que você se inquieta por tão pouco? Ainda que a vida seja um completo mistério, estar aqui já é um enorme privilégio. Para mim, isso já é mais do que posso conceber.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

a sociedade quer mudar... ou não quer?




Ano após ano, seguimos acompanhando as inúmeras conquistas e derrotas sociais e políticas de nosso povo, sofrido, mas ainda sonâmbulo, vivendo (ou sobrevivendo?) de surtos esporádicos de lucidez, de espasmos de participação cidadã... para logo voltar ao seu “berço esplêndido”... melhor é sonhar? 

Depois que nosso país entrou orgulhosamente no circuito internacional das grandes mobilizações e protestos massivos, a verdade pura e simples é que pouca coisa mudou.  
Culpa da Direita mesquinha? Culpa da Esquerda medíocre? Cuidado... não nos iludamos tão facilmente pela encenação teatral política que assistimos pela TV e pelas revistas. 

Muito além da mobilização esporádica e incipiente das ruas, não podemos esquecer da atuação significativa dos coletivos ativistas e demais redes de cidadãos que, organizados em ONGs, associações, conselhos, movimentos e institutos, contribuíram e contribuem para barrar retrocessos, para ampliar a aplicabilidade da Lei da Ficha Limpa em todos os níveis da gestão pública, para fulminar o vergonhoso voto secreto parlamentar, para dar um empurrãozinho na aplicação da importantíssima Lei nº 12.846/13 (que dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de empresas pela prática de atos contra a administração pública). 

Mas, já sabemos: para inibir a prática da corrupção, não bastam leis e discursos inflamados. Falta a tão famosa “vontade política”, como dizem... Dizem, porque de verdade, ninguém realmente a viu algum dia por aí. É quase um mito.

É!! A falta de senso de brasilidade, de educação para uma cidadania mais consciente, segue fazendo seus estragos. O povo? Sempre e mais uma vez, espectador das encenações e decisões políticas nos palcos espalhados por aí.

Questões como a Reforma Política, a busca por eleições mais limpas, as distorções de representação política do atual sistema eleitoral, além da vil questão da permissão para que empresas financiem campanhas eleitorais, para posteriormente serem beneficiadas com contratos, entram e saem da pauta midiática e parlamentar, ao sabor dos escândalos (e dos interesses) que pipocam.

Ao lado de tudo isto, estamos assistindo a um fato quase inédito: políticos e empresários do alto escalão condenados por corrupção (muitos com penas em regime fechado). Quase nada, mas melhor do que nada.

Por mais que estejamos frustrados com a timidez dos avanços, certamente abriu-se um precedente para outros casos que também precisam de urgente apuração, mas que jaziam no limbo tenebroso da prática político-partidária tupiniquim-luso-brasileira.

Paradoxalmente, o Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional mostra que a corrupção no Brasil continua mais alarmante do que nunca. O brasileiro em geral parece que, aos poucos, vai se tornando mais consciente de que em ambiente de corrupção dificilmente prosperam projetos de desenvolvimento econômico e social. O combate à corrupção aumentou, mas a corrupção (ou a percepção dela) também parece ter aumentado.

Como resolver o aparente paradoxo? Podemos efetivamente construir uma sociedade mais justa? Ou tudo não passa de utopia e engodo ideológico? Temos evidenciado que a simples percepção consciente do mal, juntamente com os duros golpes que desferimos contra ele, não o eliminam.

Assim, começo a notar que não deveríamos focar somente no combate aos corruptos e corruptores, por uma razão simples: as estatísticas têm comprovado uma lei sociológica paradoxal: quase tudo no qual nos concentramos e simploriamente combatemos, acaba se fortalecendo. Quase tudo que se tenta simploriamente reprimir, só faz aumentar sua resistência, tal como um antibiótico mal administrado, acaba por fortalecer ainda mais o micróbio que se queria eliminar.
 
Por isso, ao invés de simplesmente criticar e combater o mal, mudemos nosso foco! Passemos a valorizar e ressaltar mais as pessoas que respeitam o próximo, que pagam seus impostos honestamente, que respeitam as leis, que pautam suas vidas em atitudes éticas.

Notemos a influência do nosso comportamento na vida social e percebamos que, a partir de pequenas atitudes, vai se formando aquela cultura de boas práticas, a qual por sua vez, em efeito cascata, contribuirá inevitavelmente para que as relações pessoais, interpessoais, sociais e políticas sejam construídas sobre novas bases de integridade, de coerência, de dignidade, de respeito ao outro, à coletividade da qual fazemos parte, queiramos ou não.
 
Por fim, precisamos, cada um de nós, despertar nas pessoas que nos cercam, não fatalismos, derrotismos e niilismos, mas aquele senso de brasilidade que vai além da torcida pela seleção em dia de jogo, que vai além do ingênuo patriotismo etnocêntrico.

Precisamos despertar nossa consciência cidadã, resgatando valores e atitudes que compõem o senso coletivo de moralidade, civismo e respeito pela nossa cultura. Precisamos vigiar a sombra que nos espreita a partir de nós mesmos, mas nosso foco principal não deve ser o mal que enxergamos tão bem no mundo fora de nós.

Nossa atenção deve se voltar para aquelas atitudes que gostaríamos de ver generalizadas na prática social e política. Somos sim capazes de mudar o mundo a nossa volta. Mas não adianta espernear: o mundo ao nosso redor só refletirá a mudança que tivermos coragem de fazer também dentro de nós mesmos.

domingo, 17 de setembro de 2017

Quando a espera é transformação

 













Pergunta:
Eu não sou rica nem tenho tudo de que preciso. Mas, mesmo assim, eu me sinto sozinha, confusa e deprimida. Existe alguma coisa que eu possa fazer quando esse tipo de depressão acontece?

Se está deprimida, fique deprimida; não “faça” nada. O que você pode fazer? Qualquer coisa que faça, fará por causa da depressão e isso a deixará mais confusa. Você pode rezar a Deus, mas rezará de modo tão deprimente que deixará até Deus deprimido com as suas orações!

Não cometa essa violência contra o pobre Deus. A sua oração será uma oração deprimente. Como você está deprimida, qualquer coisa que fizer virá acompanhada de depressão. Causará mais confusão, mais frustração, porque você não vai ser bem-sucedida. E, quando não é bem-sucedida, você fica mais deprimida, e esse é um ciclo sem fim.

É melhor ficar com a depressão original do que criar um segundo ciclo e depois um terceiro. Fique com o primeiro; o original é belo. O segundo será falso e o terceiro será um eco longínquo. Não crie esses últimos dois. O primeiro é belo.

Você está deprimida, portanto, é assim que a existência está se manifestando para você neste momento. Você está deprimida, então continue assim. Espere e observe. Você não vai poder ficar deprimida por muito tempo, porque neste mundo nada é permanente.

Este mundo é um fluxo. Ele não pode mudar as suas leis básicas por você, de modo que possa continuar deprimida para sempre. Nada aqui é para sempre; tudo está em movimento e em mudança. A existência é um rio; ela não pode parar para você, para que você possa continuar deprimida para sempre. Ela está em movimento — já mudou. Se você observar a sua depressão, verá que nem ela é a mesma; é diferente, está em mutação.

Só observe, continue com ela e não faça nada. É assim que a transformação acontece: por meio do não-fazer.

Estas defesas nos protegem?

Todos criamos cascas protetoras, para nos defender dos outros. Bichos cascudos têm pouca mobilidade, e machucam os outros. Uma velha tradição diz que o ser humano faz tudo para ter prazer na vida, e evitar a dor. Verdade?
Normalmente não procuramos demonstrar o amor que sentimos, quando amamos. Amor é ruim? Feio? Dói?
Também evitamos o choro, mesmo quando a vontade é grande. Choro é feio? Dói?
A mulher e o homem apaixonados se encontram. Tem vontade de pegar um na mão do outro, afagar o cabelo, abraçar, olhar nos olhos, puxar o nariz, brincar de faz de conta, manifestar ternura, contentamento, alegria, felicidade. Mas em geral não fazem nada disso.Tolhem os gestos mais espontâneos e ingênuos, que não são feios nem doem. Dariam prazer?
De fato (e INFELIZMENTE) na hora das coisas boas ficamos cheios de dedos. Não sabemos senti-las, muito menos nos entregar a elas. E usamos desculpas para esconder nossa incapacidade. Dizemos:
 - Não estava na hora.
- Ele não é a pessoa certa.
- O lugar não era adequado.
- O que iriam pensar?
- Não devo, não sou dessas.
Verdade que procuramos prazer e evitamos a dor?
Acho que acontece o contrário; defendemo-nos de coisas excelentes, fabricando uma casca protetora, verdadeira couraça. Os psicanalistas a chamam de defesa psicológica ou mecanismo de fuga ou proteção? Toda casca faz do indivíduo um especialista? Ele sempre responde as incertezas do mesmo jeito. Por isso, torna-se muito capaz numa direção, e incapaz na outra.
Alguns exemplos: o desdenhoso sabe desdenhar espetacularmente, mas sua habilidade termina aí. O orgulhoso é especialista em colocar-se acima das coisas, e incapaz de vivê-las. O gozador tem grande capacidade em rir de tudo, porém, não sente nada de importante, já que tudo é risível. O sério julga o mundo sério demais e achata a vida. Não sabe rir.
O displicente não leva nada a sério, então, não há nada que lhe interessa. A ingênua diz com espanto nos olhos que tudo é novo, mesmo acontecimentos velhos de muitos anos. E não se enriquece com acúmulo das experiências. O cobrador vive exigindo que as pessoas cumpram sua obrigação, com isso elimina a possibilidade (e risco) das respostas espontâneas.
O desconfiado está sempre desconfiado e afasta as coisas boas que interpreta como malévolas.
A eterna vítima é técnica em queixar-se, portanto não se arrisca a viver uma situação agradável. O Don Juan transforma a vida numa caçada à mulher, porém é incapaz de amar alguém.
O falador interminável teoriza sobre tudo e não vive, a vida é um dicionário. Esses são só alguns exemplos de cascas. Pois há tantas....e todas dificultam a vida. Como se fossem óculos escuros, impossibilitando a visão do arco-iris.
O cavaleiro medieval, armado de imponente armadura, investe contra o índio nu. Casca e não casca. Quem vai ganhar?
Se for preciso passar por uma ponte estreita (ou seja, por um momento difícil) é quase impossível manter o equilíbrio com a armadura. O índio ganha se surgir um perigo inesperado; como é que o cavaleiro se defenderá? Ele só sabe fazer as coisas de um jeito (é um especialista). O índio ganha. Se acontecer um empurrão (isto é, se as pressões sociais forem muitas), o cavaleiro não resiste e cai. O índio ganha.
Além disso, durante todo o tempo da luta, o encouraçado tem a respiração deficiente. Em consequência disso, ele pensa, sente e se mexe mal, pois a casca feita, na verdade, por tensões musculares que prendem, como uma roupa apertada, inibe todas as expansões.
Voltando aos exemplos, como o cavaleiro encouraçado, o desdenhoso, a vítima, o orgulhoso e os outros cascudos, especializados em suas defesas se movem, respiram, se sentem mal, vivem mal. Todo bicho muito cascudo,tartaruga, besouro, morre quando cai de costas. Seria bom aprender esta lição. A casca oprime, limita e sufoca... nos torna burros em todas as reações que fogem a nossa especialidade... nos deixa tensos e sem reações de forma que deixamos a vida passar sem realmente vivê-la, como se passa o tempo.


Autor: J. A. Gaiarsa 
Couraça Muscular do Caráter (Wilhelm Reich) Editora Ágora/ Edição 4 / 1984

domingo, 10 de setembro de 2017

A Verdade sobre Aquilo



Quando curiosamente te perguntarem, buscando saber o que é Aquilo,
Não deves afirmar ou negar nada.
Pois o que quer que seja afirmado não é a Verdade,
E o que quer que seja negado não é verdadeiro.
Como alguém poderá dizer com certeza o que Aquilo possa ser
Enquanto por si mesmo não tiver compreendido plenamente o que É?
E, após tê-lo compreendido, que palavra deve ser enviada de uma Região
Onde a carruagem da palavra não encontra uma trilha por onde possa seguir?
Portanto, aos seus questionamentos oferece-lhes apenas o silêncio,
Silêncio – e um dedo apontando o Caminho.

(verso zen  -  autoria desconhecida)

o inimigo... dentro do sonho

“O segredo da salvação é esse: que você está fazendo isso sobre si mesmo. Não importa a forma do ataque, isso continua sendo verdade. Quem quer que assuma o papel do inimigo e do atacador, ainda é esta a verdade. Qualquer que pareça ser a causa de qualquer dor e sofrimento que você sente, isso continua verdade. Porque você não reagiria aos personagens em um sonho se soubesse que você estava sonhando. Deixe-os ser tão odiosos e viciados quanto possam ser, eles não podem ter nenhum efeito em você a não ser que você falhe em reconhecer que são seu sonho”.

Helen Schucman (1909-1981), co-autora de Um Curso em Milagres, Cap. 27

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

a história real de um fazedor de rios


De tanto observar, foi lá e fez...

a história de um fazedor de rios


Às margens da Rodovia dos Bandeirantes, o fazedor de rios

Mesmo sem conhecimento teórico, ativista Adriano Sampaio, de 45 anos, criou no Jaraguá um sistema de biovaletas


Edison Veiga, O Estado de S. Paulo
22 Março 2017 |


SÃO PAULO - De tanto observar os rios, foi lá e fez um. É mais ou menos este o resumo da história do ex-corretor de seguros Adriano Sampaio, de 45 anos, ativista ambiental criador do projeto Existe Água em SP. Na verdade, meio sem querer, ele desenvolveu o que oficialmente pode ser chamado de biovaleta - um sistema ecológico e sustentável de reaproveitamento de água da chuva.

Sampaio mora no bairro de Vila Clarice, noroeste da cidade, a poucos metros da Rodovia dos Bandeirantes, perto do Pico do Jaraguá. Começou a notar que a valeta de concreto que margeia a pista - e serve para escoar a água da chuva - andava sempre com suas poças. Pouco declive, região com sombra de árvores, zero permeabilidade... “Aí, em minha cabeça, ficava a lembrança de rios que, quando enchem, ocupam uma área de várzea. Depois, na estiagem, voltam ao leito mas deixam alguns lagos perenes”, comenta.

Em janeiro, pegou facão, enxada e principiou o trabalho. Deu uma limpada no mato, tirou o lodo que estava acumulado no fundo da valeta, fez duas barragens com argila e algumas pedras - tiradas do próprio entorno -, criou um corregozinho de dez metros. Choveu. Encheu. Trinta centímetros de profundidade.
Então ele se embrenhou por rios da região, peneira na mão, caçou uns guaruzinhos - o lebiste selvagem. Conseguiu também cascudos e carás. “E um dia fui ao Mercado da Lapa e comprei seis pequenas carpas. Gastei R$ 20. Foi o único investimento financeiro do projeto”, conta. 
A valeta ganhou vida. Os guarus se reproduzem rapidamente. Aos poucos, girinos têm surgido. Plantas aquáticas, também. “Outro dia um passarinho desses pescadores estava aqui de olho. Daqui a pouco vai ter bicho sondando por perto, atrás dos peixes”, diz Sampaio. Borboletas já rodeiam o local, antes quase inóspito.
Então o ativista descobriu - ah, a internet! - que o que estava fazendo tem nome e conceito: biovaletas. Na realidade, é um jeito de lidar com as águas da chuva de modo sustentável. “Trata-se de uma técnica bem contemporânea no exterior”, afirma o arquiteto, urbanista e paisagista Henrique de Carvalho, do Ateliê Tanta - um entusiasta da ideia. “Desde os anos 1960 e 1970, é um formato bastante estudado. Nos Estados Unidos, por exemplo, a cidade de Portland, em Oregon, incentiva o modelo largamente.”
Ano sim, ano não, a prefeitura do município americano publica um guia intitulado Manual de Manejo da Água da Chuva. A última edição, de 2016, saiu com 502 páginas. 
Nelas, as biovaletas são apresentadas como uma alternativa recomendada para lidar com a pluviosidade. Um “canal vegetado” não apenas para coletar a água da chuva, mas também com a função de “diminuir o escoamento superficial, sedimentar, melhorar a infiltração e reduzir a poluição”. Sim, as tais barreiras de argila “inventadas” por Sampaio têm essas funções: acabam livrando a água de impurezas. 
Na versão paulistana, o ativista acredita que está resolvendo o problema dos mosquitos - afinal, as larvas dos insetos são um banquete para os peixinhos. “Já notei que não aparecem mais tantos Aedes quanto antes”, ressalta.

Reconhecimento.
Biovaletas são instrumento reconhecido pela literatura especializada. A técnica aparece no livro Manual de Orientação Para a Proteção da Qualidade das Águas Pluviais, da Associação das Agências de Manejo de Água da Chuva da Área da Baía de São Francisco (BASMAA, na sigla em inglês). 
Em Desenvolvimento de Baixo Impacto, obra publicada pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Arkansas, no Estado americano homônimo, as biovaletas são destacadas como componentes úteis às áreas urbanas. 
Sampaio diz que pretende procurar a CCR AutoBan, concessionária que administra a Rodovia dos Bandeirantes, com o projeto debaixo dos braços. Agora já com três trechos de dez metros cada em pleno funcionamento, sonha com um córrego que avance por quilômetros. “Estarei à disposição se quiserem que eu ensine a fazer”, adianta ele, enquanto admira a própria criação.


fonte:
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2017/03/22/as-margens-da-rodovia-o-fazedor-de-rios.htm?

dois tipos de pessoas


“Para mim, existem dois tipos de pessoas:
as que perseguem seus objetivos e as que celebram a vida. Os que perseguem objetivos são loucos. Aos poucos, eles estão enlouquecendo – e estão gerando sua própria loucura. E a loucura tem a sua própria força; lentamente eles se afundam nela – assim, ficam completamente perdidos.
O outro tipo de pessoa não é um perseguidor de objetivos; ela não persegue absolutamente nada; ela celebra a vida.
E isso ensino a vocês: sejam os que celebram, comemorem! Já existe muita coisa – as flores vicejam, os pássaros cantam, o Sol está no céu – celebre a vida! Você está respirando e está vivo e tem consciência: festeje!
Com isso, de repente, você relaxa; aí não há mais tensão, não há mais angústia. Toda a energia que se houver transformado em angústia se torna gratidão. Seu coração passa a bater embalado por uma gratidão mais profunda – isso é oração. Orar é exatamente isso, um coração batendo com profunda gratidão.
Não é preciso fazer nada para isso. Apenas entenda o movimento da energia, o movimento sem motivação da energia. Ele flui, mas não em direção a um objetivo, ele flui como uma celebração. Ele se move, não em direção a um gol, se move por causa de sua própria energia transbordante.

Uma criança está dançando e pulando e correndo por toda parte; pergunte-a, “Onde você está indo?”. Ela não está indo a lugar algum – você vai parecer tolo pra ela. Crianças sempre pensam que adultos são tolos. Que pergunta tola, “Onde você está indo?”. Há alguma necessidade de ir a algum lugar? Uma criança simplesmente não consegue responder sua pergunta porque é irrelevante. Ela não está indo a lugar nenhum. Ela vai simplesmente dar de ombros. Vai dizer, “nenhum lugar”. Então a mente orientada-a-objetivos pergunta, “Então porque você está correndo?”- porque para nós uma atividade é relevante apenas quando leva a algum lugar.

E eu digo a você: não há nenhum lugar a ir. Aqui é tudo. Toda a existência culmina neste momento, converge para este momento. Tudo o que existe está fluindo para este momento – é aqui, agora.

Uma criança está simplesmente desfrutando a energia – ela tem demais. Ela está correndo, não porque tem que chegar a algum lugar, mas porque tem energia demais, tem que correr.
Aja desmotivadamente, apenas como um transbordamento de energia. Compartilhe, mas não negocie; não faça barganhas. Dê porque você tem; não dê para ter algo em troca – porque então você estará na miséria.”

Osho (1931-1990), em “Tantra: The Supreme Understanding: Discourses on the Tantric Way of Tilopa’s Song of Mahamudra

fonte:  http://dharmalog.com/2014/12/01/aqui-e-tudo-nao-ha-nenhum-lugar-ir-toda-existencia-culmina-neste-momento-osho-aqui-e-agora/

o real sentido daquilo que fazemos (seja o qual for)

o verdadeiro significado do trabalho (qualquer trabalho)


Conta a história que um certo viajante, chegando próximo a um prédio ainda em construção, passou a dialogar separadamente com três dos construtores que ali trabalhavam. Todos faziam tarefas semelhantes e aos três o viajante fez a mesma pergunta: o que você está fazendo? 
O primeiro disse o óbvio: “Estou assentando tijolos”. 
O segundo conseguia notar algo além e respondeu: “Levantando uma parede”. 
O terceiro, contudo, respondeu animado: “Construindo a catedral da minha cidade”.

x - x - x - x - x - x
 


Neste breve conto antigo, ficou bem ilustrada a importância de aperceber-nos do sentido daquilo que fazemos... 
A relevância de se compreender o propósito daquilo que se faz, independente do que seja, ou do contexto no qual se encontre, é algo muito valioso, por várias razões:
se algo dever ser feito, deve ser bem feito; mas a motivação para assim fazê-lo depende do quanto vejo, do quanto enxergo, além do meu próprio nariz. Qual é a minha perspectiva? Qual é o meu ângulo de visão das coisas? necessito compreender por que faço o que faço!
Quando tiver clara essa dimensão, essa profundidade de compreensão, nesse exato instante, saberei, primeiro, se devo continuar fazendo o que faço, do modo como faço;
Por fim, haverá em mim a gana, a coragem e a tenacidade para dar cabo da tarefa, não importam as condições, nem o preço que pagarei para poder concluí-las!