domingo, 26 de fevereiro de 2017

você está sonhando agora mesmo! e você escolheu esse sonho (Alan Watts)

tradução da fala de A. Watts contida no vídeo acima:

Vamos supor que você fosse capaz de, todas as noites, sonhar qualquer sonho que você quisesse sonhar... e como você naturalmente começou nesta aventura de sonhos, você iria realizar todos os seus desejos...
Você teria todo tipo de prazer, você sabe, e depois de várias noites você diria: "bem, foi muito bom, mas agora vamos ter uma surpresa! vamos ter um sonho que não está sob controle". 
Bem, algo vai acontecer comigo que eu não sei o que vai ser. Então você ficaria mais e mais aventureiro, e você faria mais e mais para apostar com o que você sonharia, e finalmente você sonharia... onde você está agora! (...)

(Alan Watts) 







Se quiser entender um pouco melhor o que A. Watts quis dizer, segue logo abaixo, a preleção de onde o trecho acima foi retirado: https://www.youtube.com/watch?v=SVHr6jF1E6k 




quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

O Passamento do Mestre Antonio João Fraga Padilha


Como é sentir-se num corpo que mal consegue conter a grandeza da própria alma? Qual é a alegria e a dor de nascer num país de tantas riquezas naturais e culturais, cujo povo desconhece sua história e seu valor? Como é ser um intelectual num país como o Brasil?

O Educador bauruense Antonio João Fraga Padilha sabia. E podiam também experimentá-lo, todos que tivemos a honra, o privilégio, a felicidade, o destino e a bênção de conhecê-lo ou de tê-lo como professor.

É!! Nossa cidade acaba de sofrer uma perda inenarrável. Impossível quantificar quanto aprendemos e quantos aprenderam de seus lábios, de sua caligrafia pedagógica, de suas pesquisas... Bauru acaba de ver passar um de seus grandes, uma alma ímpar, um como poucos, lhes garanto! Conselheiro da 1ª diretoria da Sociedade Bauruense de Esperanto (ainda em 1965) e cofundador da Academia Bauruense de Letras, nosso caro mestre ainda era poeta, escritor, poliglota, pesquisador da História e da Ciência Política, profundo conhecedor das religiões orientais e ocidentais, formidável orientador de inúmeras gerações. 

Ninguém passava por ele impune, sem sentir um pouco de vergonha pelo pouco (ou nada) que fazíamos em prol da cidadania pátria, em prol de nossa brasilidade e de nosso povo. Perto dele, qualquer um descobria, querendo ou não, o valor de um Ricardo Gonçalves, de um Godofredo Rangel, de um Monteiro Lobato, de um Machado de Assis, de uma Florbela Espanca ou de um Assis Chateaubriand... dono de uma bagagem cultural invejável, leitor assíduo de diversos periódicos, de distintas orientações ideológicas, além de ouvinte contumaz de emissoras de rádio da Inglaterra, da França, da Alemanha, da Itália e do Brasil, nunca se deixava pegar neófito ou desinformado sobre qualquer que fosse o tema proposto para debate. Estudioso das Ciências Humanas, da Filosofia e até da Parapsicologia, jamais se furtava ao debate vigoroso e profundo de ideias, o qual pairava sempre um pouco acima das superficiais ideologias políticas ou religiosas, com as quais tantos se deixam contagiar.

Quem não se banhou nas memoráveis Noites de Poesia, nos saraus e círculos de leitura que este mestre presidia, perdeu muito! De um jeito ou de outro, teimosamente, sempre e sempre, o Educador nos fazia lembrar o que é “ser brasileiro”! E era para que não perdêssemos esse senso de brasilidade, que ele ensinava, energicamente! Uma luta árdua contra a ignorância, contra nossa preguiça intelectual e espiritual. 

Enfim, Professor Antonio João Fraga Padilha era uma vacina contra a superficialidade dos discursos, contra a manipulação hipnótica das mídias, em especial contra o papel destrutivo, deformativo e bestializante a que se prestava (e se presta) a televisão brasileira. 

De suas aulas, fosse de Língua Portuguesa, da Língua Internacional Esperanto, de História, ou do que mais fosse, sempre saíamos com muito mais do que tínhamos ido buscar! Suas aulas sempre magnas, não só eram informativas, mas formativas. Aprendíamos, sempre embasados em documentos, não em simples retórica, desde as mazelas dos republicanos positivistas no Golpe de Estado de 1889 até as conspirações hodiernas de alienação do povo, da Monarquia brasileira à genealogia das dinastias egípcias, todo encontro pedagógico era um apelo indireto, mas incisivo, à consciência de cada um. 

Desde ontem não temos mais nosso ilustre mestre e o espaço aqui é ínfimo para ainda dizer tanto. Mas algo valiosíssimo herdamos: exemplo e sábios conselhos. 

Sua imortalidade jaz em nós, seus órfãos!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Porque não somos o que parecemos ser...



Seja um Especialista!

- a vantagem do autoconhecimento -


Você acha que vou falar de seu nível de escolaridade ou capacitação profissional? Fique calmo... Não vou! Conquistar aquele “salário dos sonhos” é um jogo excitante, mas hoje não vamos jogar. Proponho, antes, uma pitada de filosofia e que sejamos especialistas... em nós mesmos! 


Sim, isso tem a ver com felicidade, liberdade... tudo que todos aparentemente buscam. Mas haveria relação de causalidade entre felicidade e formação técnica? É mais feliz quem “sabe” mais? É verdade que alguém tecnicamente mais preparado tem, em regra, melhor remuneração e assim, possui tudo quanto acredita ser preciso para ser feliz. Então, após apostar nossas melhores fichas –tempo e vitalidade- começamos a desconfiar que o “pote de felicidade” não estava lá no final do arco-íris. Todas aquelas técnicas, saberes, ritos de passagem, títulos e amuletos acumulados não nos tornaram, nem mais felizes, nem mais livres... por quê? É aqui que um especialista em si mesmo fará toda a diferença.


Para um médium, parece simples incorporar entidades de outras dimensões. Para um cristão, a incorporação daquilo que ele chama de demônio ou do próprio Espírito divino também é possível. Mas não precisamos ir tão longe para fazer um simples exercício de auto-observação e responder: quantas pessoas distintas incorporamos durante um mesmo dia? Ou você realmente acredita que é a mesma pessoa o tempo todo? Quantos impulsos e desejos contraditórios já experimentamos? Quantos deles se introjetaram e se aninharam em nossas mentes, mesmo contra nossa própria vontade? Agora, tente o contrário: incorporar a entidade chamada “você mesmo”, seu Eu verdadeiro, seu real ser! Você tem certeza de que consegue? Isso, de fato, não é prá qualquer um... É tarefa para um especialista em si mesmo!

É fato que a ciência da Psicologia já identificou diversos egos convivendo na psique humana, uns mais simples, outros mais complexos, uns úteis, outros prejudiciais, uns cordiais, outros nem tanto... todos fragmentos nutridos por nossa energia, hábitos e distrações. Mas, qual destes egos realmente representa nossa essência? E quais seriam meros agregados que grudaram em nós com o tempo, advindos do ambiente, das culturas ou das memórias coletivas? A pergunta filosófica crucial é sempre atual: quem realmente somos nós?

Um especialista em si mesmo não só descobre que não era quem pensava ser, como também que, em boa parte do tempo, sequer tinha posse de seu próprio corpo! De fato, é estarrecedor e quase inacreditável constatar que perambulamos por aí dispersos, pelos corredores do futuro ou do passado, à moda de Alice no País das Maravilhas.  O corpo físico? Quase sempre um barco à deriva... por vezes, correndo perigo. O que acontece em um barco ou casa não vigiada por seu dono? Andarilhos e vendilhões forasteiros começam a se apossar... e é lógico que consigo trazem suas sujidades, seus cacarecos, seus vícios e seu lixo. Instalam-se na forma de pensamentos, sentimentos, medos e desejos excitantes e viciantes. 
a multidão de habitantes viventes em nosso interior


O primeiro passo para o especialista é retomar o leme de si próprio, colocando-se mais atento a pensamentos e sentimentos, não se confundindo mais com eles. Uma vez conscientemente flagrados, aqueles andarilhos vão aos poucos se desarticulando e perdendo boa parte de seu domínio. Cada um de nós é chamado a ser esse especialista, para, por fim descobrir que aquela felicidade e liberdade buscadas fora, sempre estiveram ocultas bem debaixo da poeira dos agregados acumulados dentro de nós mesmos.

publicado em 01/02/2017 no Jornal da Cidade de Bauru